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CUSTÓDIO GOMES DE VILAS BOAS, TIO E SOBRINHO: CONHECIMENTO(S) AO SERVIÇO DA REGULARIZAÇÃO DA FOZ DO CÁVADO
  • Ana Isabel Lopes | Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Em 1799, Custódio Vilas Boas, brigadeiro, enviou um requerimento ao Ministério do Reino solicitando um pedaço do álveo devoluto entre a foz do rio Cávado e Rio Tinto para estabelecer azenhas, salinas, moinhos de maré e uma fábrica de linho, acompanhado pelas respetivas plantas do projeto. Um ano depois, o seu sobrinho, afilhado e homónimo, o tenente Custódio José Gomes Vilas-Boas (1771-1809), apresenta a «Planta do projecto e estado presente das obras de encanamento do rio Cávado», para as quais tinha sido nomeado em 1795. Ambas as plantas são muito semelhantes e, partindo dos dados biográficos já conhecidos destes dois militares, no requerimento enviado, na análise comparativa destas plantas e de outros dados sobre a formação dos engenheiros militares ao longo da segunda metade do século XVIII, procura-se compreender qual a influência de Custódio Vilas Boas sobre a obra do seu sobrinho. Assim, por um lado, procura-se perceber se o brigadeiro poderá ter auxiliado na realização da planta de forma informal, por procurar benefícios para o estabelecimento desses meios de produção ao longo da foz do rio e por ter desenvolvido estudos no âmbito dos movimentos das marés. Por outro lado, equacionar-se-á se o brigadeiro não teve qualquer influência na planta do encanamento do Cávado e ambas apenas são semelhantes, uma vez que o tenente foi educado pelo tio e lhe transmitiu os conhecimentos que detinha sobre cartografia e sobre hidráulica. Outra das questões a desenvolver prende-se com a educação e transmissão de conhecimentos de engenharia hidráulica entre militares, nomeadamente a formação de militares formados com os mais recentes conhecimentos, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX, e por que vias é que esse conhecimento chegou a Portugal e como é que este conhecimento passou dos manuais científicos e foi aplicada ao território nacional.

Palavras-chave: Engenharia militar; Engenharia hidráulica; Custódio Gomes Vilas Boas; encanamento do rio Cávado; Circulação de conhecimentos

Ana Isabel Lopes é licenciada em História e mestre em História e Património, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com uma dissertação sobre as causas, consequências e respostas sociais do assoreamento da foz do rio Cávado (Fão), entre meados do século XVIII e 1870. Tem-se dedicado ao estudo de movimentos dunares e de fenómenos de assoreamento, na costa noroeste portuguesa e quais os impactos que tiveram na vida das comunidades e de que forma é e que estas, juntamente com os poderes locais e centrais, lhes souberam responder, ao longo das épocas moderna e contemporânea.

 
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A EXPEDIÇÃO DE MOÇAMBIQUE DE 1752: PERCURSOS DE ENGENHEIROS NO IMPÉRIO PORTUGUÊS
  • Sara Ventura da Cruz | Instituto de Investigação Interdisciplinar/ Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra   

Em meados do século XVIII, a competição inter-imperial e a crescente noção da falência da retórica dos “direitos históricos” sobre a posse dos territórios coloniais determinaram a necessidade de garantir a posse pela ocupação, como resultou claro nas negociações do Tratado de Madrid de 1750. Estes fatores condicionaram de forma significativa a atuação das autoridades da Coroa Portuguesa nos seus espaços coloniais.  No caso de Moçambique, esta realidade refletiu-se num conjunto de medidas para fazer face à decadência do território e melhorar a sua defesa. Nesse âmbito, em 1752 foi preparada uma expedição para Moçambique, composta por 376 homens, entre oficiais, soldados e oficiais engenheiros. Importa perceber como foi organizada, planeada e preparada esta expedição, para uma colónia até então em quase permanente deficit de técnicos e militares, especialmente tendo em consideração que, no contexto das demarcações do Tratado de Madrid, em 1750 a Coroa tinha procedido ao envio de uma importante expedição para o Brasil, para a qual tinham sido alocados recursos humanos e materiais significativos. Assim, proponho-me no âmbito deste Workshop analisar as motivações e intenções para a constituição deste corpo de técnicos, como Fritz Hoppe lhe chama, percebendo as diferentes etapas, identificando os intervenientes no processo de seleção dos homens, e os constrangimentos e opções que estão na sua base.  Paralelamente, e partindo da “Relação assim de alguns Oficiais Engenheiros que sabem riscar, como dos Discípulos da Academia Militar da Corte”, documento elaborado pelo Lente da Academia Militar, Filipe Rodrigues de Oliveira, no âmbito do processo de seleção para a Expedição, proponho-me analisar de que forma foi distribuída pelo espaço imperial esta mão-de-obra qualificada e quais os percursos que empreenderam.

Palavras-chave: Moçambique, Império, Século XVIII, Engenharia Militar

Sara Ventura da Cruz (Aveiro, 1978). Licenciada e Mestre em Arquitetura (FCTUC, 2005 e 2011). Curso de Pós-Graduação em Direito do Ordenamento, do Urbanismo e do Ambiente (CEDOUA-UC, 2009). É, desde 2012, doutoranda do Programa de Doutoramento “Patrimónios de Influência Portuguesa” (CES/III-UC), onde se encontra a desenvolver a dissertação intitulada “Visões territoriais do iluminismo português na África Austral”, para a qual obteve bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Participa como investigadora no projeto TechNetEMPIRE – Technoscientific Networks in the construction of the built environment in the Portuguese Empire (1647-1871).

 
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O PERFIL DOS DEGREDADOS PARA ANGOLA (SÉCULO XVIII)
  • Juliana Diogo Abrahão | Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro     

Na perspectiva de Carlos Couto, que possui produção historiográfica na década de 70, o Reino de Angola era o “túmulo do homem branco”, principalmente devido ao clima e às doenças (como o escorbuto), o que levava governadores, como Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1722), Antônio Álvares da Cunha (1753), Antônio de Vasconcellos (1758), entre outros, a pedirem incessantemente por pessoas, ou casais, na tentativa de solucionar a dificuldade em atrair povoadores para Angola.  Muitos desses pedidos mencionavam casais do arquipélago dos Açores e da Madeira, que segundo os governadores se adaptariam melhor ao clima. Mas, é importante ressaltar, que os casais dos Açores e da Madeira, em alguns casos seguiam para Angola de maneira voluntária. Como será realçado, a partir das fontes (Arquivo Histórico Ultramarino e a Biblioteca Municipal de Luanda), “com base em desertores das tropas, ou ladrões das cadeias de Lisboa e Porto e, de uma maneira geral, vagabundos, o povoamento estruturava-se mal”. Sendo assim, há uma clara referência aos degredados, e ao péssimo comportamento dos condenados. Mas, quem eram esses degredados que chegavam a Angola? Qual o perfil desses degredados pela coroa portuguesa?  Nesta comunicação pretendo apresentar o contexto local de Angola, no século XVIII, e o perfil desses degredados que estavam sendo enviados para o domínio ultramarino português. Com base nos registros de carta de guia dos degredados  (BML) e também de bibliografia complementar é possível observar o número de homens e mulheres, as variações desse número de acordo com os anos, o número de entradas para cada governo entre 1714 e 1757, as naturalidades, as procedências, os crimes, as penas e suas especificidades, além de outros aspectos importantes da política do degredo. 

Palavras-chave: Degredados, Angola, Circulação, Século XVIII

Juliana Diogo Abrahão, licenciada em História na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto Multidisciplinar. Foi bolsista de iniciação científica da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Mestrada Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro neste momento é bolsista (CNPQ) no curso de doutorado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

 
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PARA ALÉM DA PEDRA E CAL: A MÃO DE OBRA INDÍGENA NA CONSTRUÇÃO DO FORTE DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ (1760-1765)   
  • Leonardo Raiol Junior  | Universidade Federal do Pará – UFPA     

O presente estudo tem como enfoque o mundo do trabalho na Amazônia colonial no contexto específico da construção da fortaleza de São José de Macapá nos anos de 1760 a 1775. Uma primeira análise evidenciou a intensa circulação e a complexa sociabilidade de diferentes sujeitos. A formação das múltiplas redes de relações sociais que se estabeleceram em torno das obras da construção da fortificação está, pois, no cerne desta pesquisa. A atenção da comunicação será dada, sobretudo, à mão de obra empregada com suas diversas experiências e estratégias/táticas, como também à conjuntura histórico-social que nortearam esse panorama social. Logo, a comunicação perpassa por três perspectivas que estão relacionadas, ou seja, no primeiro momento, será feito uma análise do contexto ao qual está inserido a construção do forte de São José de Macapá; no segundo, a reflexão compreende o fortalecimento dos domínios da Coroa lusitana nas Terras do Cabo Norte; e por fim, analisa-se o emprego da mão de obra indígena na construção e de que forma se deu a aplicação desses operários em tal empreendimento.

Palavras-chave: Amazônia colonial – Sociabilidade – Redes – Mão de obra indígena

Leonardo Raiol Jr. é mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia – UFPA.        Voltar ao programa