____________________________________________________________________________________________  

Redes do saber teórico da arquitetura entre a capital do Império e a América portuguesa: diálogos de dois tratados dos séculos XVI e XVIII
  • Sarah Dume | Universidade Estadual de Campinas
  • Mateus Alves Silva | Universidade Estadual de Campinas

A arquitetura militar em Portugal perpassa por um processo de sistematização ao longo dos séculos XVI e XVIII que a consolida enquanto disciplina metódica e disciplinarizada por meio de cânones que se fazem presentes nas obras realizadas pelos arquitetos portugueses entre esses dois séculos.  Com essa comunicação pretendemos estabelecer um panorama afim de compreender as redes de erudição e conhecimento que conectam duas obras: o “Tratado de Arquitectura” (1576) de Antônio Rodrigues, e o tratado de Diogo da Silveira Vellozo, “Arquitetura Militar ou Fortificação Moderna” (1743).  De um lado temos o manuscrito, depositado hoje na Biblioteca Nacional de Portugal no códice 3675, que se refere ao “Tratado de Arquitectura” (1576) de Antônio Rodrigues – mestre de obras do reino entre os anos de 1565 e 1590 – intitulado e datado por Rafael Moreira. Reconhecido pela historiografia da arquitetura como o primeiro tratado de arquitetura português, este lega aos estudiosos possibilidades de compreensão acerca da sistematização da arquitetura portuguesa do séc. XVI enquanto disciplina calcada na ciência do método. De outro, o tratado de Diogo da Silveira Vellozo “Arquitetura Militar ou Fortificação Moderna”, manuscrito depositado na Biblioteca da Ajuda e publicado por Mário Mendonça, foi realizado em terras brasileiras em meados do século XVIII. A partir da experiência de Vellozo enquanto agente construtor em um contexto de reconhecimento da arte prática da fortificação moderna como campo de disciplina já reconhecido, buscaremos compreender as veredas percorridas pelas concepções dos dois autores acerca dos métodos de construção defensiva em dois períodos distintos. Analisaremos, ainda, as permanências e rupturas conceituais que se estabelecem sobre as obras produzidas destes dois importantes agentes do ideário de manutenção e defesa do Império Português, com enfoque na elaboração e assimilação de preceitos teóricos e de um vocabulário arquitetônico.

Palavras-chave: Tratados de Arquitetura; Arquitetura Militar; Antônio Rodrigues; Diogo da Silveira Vellozo

Sarah Dume é mestranda em História da Arte no Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCHUNICAMP) com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Possui experiência nas áreas de História da Arte, com ênfase em História da Arquitetura, Arquitetura do Renascimento em Portugal e a tratadística de Arquitetura na Península Ibérica do séc. XVI.

Mateus Alves Silva é Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, com estágio doutoral no Centro de História da Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora. Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. No doutorado discutiu o contexto, a produção e a difusão do tratado Perspectiva Pictorum et Architectorum de Andrea Pozzo. Atualmente tem por objeto de pesquisa os tratados de arquitetura e perspectiva produzidos entre os séculos XVI e XVIII em contexto internacional e, sobretudo, em língua portuguesa, realizando conexões entre a construção do saber teórico e a prática artística nos campos da arquitetura e da pintura.

 

____________________________________________________________________________________________

No “centro do cálculo”: Joaquim Veloso de Miranda, o Horto Botânico de Villa Rica e a produção do conhecimento botânico na capitania de Minas Gerais (1780-1805)
  • Márcio Mota Pereira | Universidade Federal de Minas Gerais

A presente comunicação busca analisar o desenvolvimento de atividades relacionadas à pesquisa filosófica em Botânica pelo naturalista luso-brasileiro Joaquim Veloso de Miranda, na capitania de Minas Gerais, Brasil, quando da virada do século XVIII para o século XIX. Também propomos analisar a importância do Horto Botânico de Villa Rica enquanto espaço dedicado à introdução, aclimatação e posterior difusão de espécies botânicas oriundas de outras conquistas portuguesas, bem como locus irradiador de espécies botânicas de Minas Gerais para outros domínios lusos, indo ao encontro da política econômica planejada e colocada em prática por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, bem como por seus entusiastas. Todo esse esforço tinha por objetivo reorientar a economia portuguesa utilizando-se, para tanto, da Ilustração e da Filosofia Natural, por meio da introdução de novas espécies botânicas em múltiplos espaços do Reino, bem como incentivo à agricultura, tornando-se nesse contexto um dos principais “centros de cálculo” dos sertões do Brasil, em consonância com o conceito proposto pelo filósofo francês Bruno Latour, e que se adequa aos propósitos daquele espaço savant, responsável não apenas pela recepção de conhecimentos botânicos desde a Europa, mas também pela produção de saberes filosóficos aplicados às Ciências Naturais no interior da América portuguesa.

Márcio Mota Pereira é  licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal de São João del-Rei, doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.

____________________________________________________________________________________________

Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira e prospectos de André João Schwebel: exercícios de espacialização e interpretação da ocupação da Bacia do Rio Negro no século XVIII, por meio da plataforma Google Earth.
  • Pedro Hungria Cabral | Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)

O trabalho propõe apresentar um exercício de espacialização e interpretação das iconografias produzidas no século XVIII, durante a Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira pela bacia do Rio Negro e os desenhos elaborados por André João Schwebel em sua “Collecçam dos prospectos das aldeas, e lugares mais notáveis…”. Pensar a figura do naturalista luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira como organizador, atestador e cotejador do material coletado por empreitadas anteriores, em diálogo direto com a burocracia estatal, agentes do Império Português no Brasil e os “centro de cálculo” na metrópole. Ferreira teve papel aglutinador na organização e uniformização dessas informações coletadas anteriormente por homens como André João Schwebel. Estabelecer e aclarar as relações que o naturalista faz entre os materiais de terceiros e apresentar as possíveis releituras feitas por ele e seus ajudantes, quando se depararam com as mesmas localidades representadas anteriormente.

O exercício pretende estabelecer um diálogo com iniciativas similares de espacializar e georreferenciar esse tipo de documentação, que estão sendo feitas atualmente em diversas frentes. Também pretende contribuir dando continuidade no esforço de muitas pesquisas sobre a urbanização e ocupação do território brasileiro no século XVIII, detalhando e especificando as redes e diálogos possíveis entre tipologias documentais.

A intenção é entender de que modo as decisões centralizadas e designadas na metrópole repercutiam nas áreas mais longínquas da colônias. Espacializar, por meio da plataforma Google Earth, as redes estabelecidas na bacia do Rio Negro e tornar mais clara a maneira como as políticas institucionais e estratégicas eram aplicadas na região. Mostrar as diversas relações encadeadas entre diferentes profissionais e instituições do Império português na bacia Amazônica durante o século XVIII.

Palavras-chave: Viagens Filosóficas, Amazônia setecentista, iconografia, georreferenciamento

Pedro Hungria Cabral é arquiteto e urbanista, formado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus Bauru. Mestrando em História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foco em pesquisas sobre a relação entra iconografia e ocupação do território nos espaços interiores do Brasil, em especial as regiões fronteiriças à oeste e Amazônia. Dissertação atual versando sobre a Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira e a iconografia de vilas, povoados e lugares da Amazônia e Centro-Oeste brasileiros de fins do século XVIII.

 

____________________________________________________________________________________________

A rede de povoações das capitanias do Norte (1549-1820): um estudo em humanidades digitais
  • Esdras Araujo Arraes | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP)

A fundação da Cidade da Bahia, em 1549, trouxe significativas alterações espaciais e científicas na América portuguesa, assim como nos subsequentes processos de povoamento de outras áreas ainda desconhecidas. Uma rica e hierárquica rede de povoações estruturada por aldeias missioneiras, sedes de fazendas, capelas filiais, freguesias, julgados, vilas, lugares de índios, cidades, comarcas, bispados e arcebispado dá a ver a complexidade sociopolítica construída por relações sociais celebradas desde a escala do cotidiano à macro-escala das comunicações atlânticas. Nesse sistema transparece o empenho das autoridades régias e de outros agentes de povoar importantes áreas das capitanias do Norte, como os sertões de criação de gado, de exploração do “sal da terra” e das minas de ouro de Jacobina e Rio de Contas. Nas últimas décadas do século XVII, a constelação de povoações se estendeu progressivamente da costa em direção aos distintos sertões, levando inclusive as especificidades técnicas e burocráticas da Coroa portuguesa e o saber de homens “práticos”, essencial ao manejo da vida e da ciência em lugares tidos pela historiografia brasileira clássica como morosos e insuficientes. Diante desse panorama, o objetivo desta comunicação consiste em interpretar, à luz da documentação manuscrita e cartográfica, a construção das redes de povoações das capitanias do Norte, valendo-se como marco cronológico inicial a implantação da primeira capital da colônia (1549) e o ponto final o estabelecimento da última vila dos sertões (Campo Largo, 1820). Procura-se demonstrar a tessitura das relações internas formulada por diferentes agentes sociais e sua comunicação com o espaço atlântico. Para isso, lança-se luz sobre a participação de homens práticos, sobretudo engenheiros militares, naturalistas e missionários, detentores de conhecimento geométrico e cartográfico basilar à fisionomia territorial, arquitetônica e imagética tanto dos sertões como das áreas próximas à costa. Além da interseção empírica de dados cartográficos com fontes documentais, a comunicação apoia-se no uso de tecnologias de georreferenciamento, como o site Nodegoat, que possibilita analisar os processos de povoamento, a construção de territórios e os contatos individuais dos “práticos” na confluência do tempo com o espaço.

Palavras-chave: Capitanias do Norte. Cartografia. Nodegoat. Redes.

Esdras Araujo Arraes é atualmente pesquisador de pós-doutorado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Doutor (2017) e mestre (2012) em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Entre outubro de 2015 e abril de 2016, realizou estágio de doutorado, com bolsa FAPESP, na Universidade do Algarve (UAlg) sob a supervisão da Prof. Dra. Renata Malcher de Araujo.

 

Voltar ao programa